Euripedes nasceu em Sacramento, na região do Triângulo/Alto Paranaíba, Estado de Minas Gerais, em 1º de maio de 1880. Filho de Hermógenes Ernesto de Araújo e Jerônima Pereira de Almeida, manifestou bem cedo profunda inteligência e senso de responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas pretéritas.


Ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o ensino, foi incumbido pelo seu mestre-escola de ensinar aos próprios companheiros de sala de aula.


Respeitável representante político de sua comunidade, tornou-se secretário da Irmandade de São Vicente de Paulo, tendo participado ativamente da fundação do jornal Gazeta de Sacramento e do Liceu Sacramentano. Logo, viu-se guindado à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida.


Não foi, de pronto, um espírita. Por meio de um dos seus tios, Mariano da Cunha (Tio Sinho) - de quem recebeu de presente o livro Depois da Morte, de autoria de Léon Denis -, Eurípedes tomou conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Kardequiana. Mariano fazia parte do grupo de pessoas que estudavam o Espiritismo na fazenda Santa Maria, propriedade localizada a cerca de 14 km de Sacramento.


Na sexta-feira da Paixão do ano de 1904, Eurípedes Barsanulfo, acompanhado do amigo José Martins Borges, foi assistir a uma sessão espírita na Fazenda Santa Maria, segundo narra Corina Novelino no livro Eurípedes, o Homem e a Missão.


Encantado com o que vira e sentira, dias depois, Eurípedes volta a Santa Maria, onde assiste a nova sessão. Na ocasião, recebeu de Vicente de Paulo uma mensagem que o convoca a assumir a Doutrina dos Espíritos. "Meu filho, as portas de Sacramento vão fechar­-se para você. Os amigos afastar­-se-­ão. A própria família voltar-­se-­á. Mas, não se importe. Proclame sempre a Verdade, porque, a partir desta hora, as responsabilidades de seu Espírito se ampliarão ilimitadamente", dizia o benfeitor.


Eurípedes, então, retorna a Sacramento, procura o vigário da Igreja Matriz onde prestava sua colaboração, e desliga-­se da congregação Vicente de Paulo, colocando à disposição o cargo de secretário da Irmandade. Voltou totalmente suas atividades para a nova Doutrina, pesquisando e estudando, por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas. É mal entendido por familiares e amigos.


Diante da repercussão de tais acontecimentos, em poucos dias, começou a sofrer as consequências de sua atitude incompreendida por familiares e amigos. Persistiu lecionando e, entre as matérias, incluiu o ensino do Espiritismo, provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais dos alunos, que chegaram a oferecer-lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.


MEDIUNIDADE


Sob pressões e perseguições de toda ordem, Eurípedes Barsanulfo sofreu forte trauma, retirando-se para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial, a de cura. Um dos primeiros casos de cura ocorreu, justamente, com sua própria mãe, que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.


A mediunidade de Eurípedes desenvolveu-se de forma notável, espontânea e multiforme, como só acontece com espíritos especialmente preparados para isto e que tenham uma missão especial, como a dele. Desdobramento, vidência, psicofonia, psicografia, curas, efeitos físicos, receituário foram surgindo e se tornando habituais em sua vivência.


A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras regiões. A todos Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo, o lenitivo da fé e a esperança renovada.


A capacidade de desdobramento era tão comum em sua vida, que atendia enfermos que se encontravam em outros locais, entrando em transe e indo, em espírito, aonde estes se encontravam.


ESPIRITISMO E TRABALHO NO BEM


Sentindo a necessidade de divulgar o Espiritismo, Eurípedes fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade, no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assistência social.


Algum tempo depois, sob a orientação de Bezerra de Menezes, fundou a Farmácia Espírita Esperança e Caridade, que era totalmente gratuita e cuja manutenção fazia-se com o salário do moço e com a ajuda espontânea de confrades abastados.


A farmácia contava, ainda, com laboratório próprio e Eurípedes adquiria os medicamentos homeopáticos e o instrumental necessários nas melhores firmas especializadas do ramo, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em nenhuma de suas atividades visava retorno pecuniário.


Recebia milhares de cartas, oriundas de todo o Brasil, trazendo comovedoras solicitações de enfermos do corpo e do espírito chegavam-lhe às mãos. E, em cada uma, Barsanulfo apunha receitas ou orientações de Bezerra, conforme a circunstância. Diariamente, eram enviados, para numerosas cidades do território nacional, pelos Correios, sob registro, centenas de remédios manipulados na farmácia.


No dia 1º de abril de 1907, Eurípedes fundou o Colégio Allan Kardec. A instituição se tornou verdadeiro marco no campo da educação, ensinando, entre outras disciplinas, Astronomia e Fundamentos da Doutrina Espírita.


O educandário tornou-se conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro, quando foi obrigado a fechar suas portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.


Entre 1907 e 1912, Eurípedes Barsanulfo foi vereador de Sacramento. Trabalhou, e muito, em beneficio da comunidade. Apesar de sua dedicação aos pobres, não foi compreendido por gente da Igreja e acabou sendo perseguido.


PERSEGUIÇÃO


Fortalecia-se o Movimento Espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este, inicialmente, de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvolver uma campanha difamatória contra Eurípedes e o Espiritismo. Barsanulfo, por sua vez, defendeu suas ideias por meio das colunas do jornal Alavanca, discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável.


Diante dos acontecimentos, a Igreja enviou a Sacramento, direto de Campinas, Estado de São Paulo, o Reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos, convencida de que as argumentações e convicções dele infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo. E foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos.


No dia marcado, o padre Yague iniciou suas observações insultando o Espiritismo e os espíritas: "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas"; era um testemunho público do ódio e demonstração de intolerância e sectarismo.


Eurípedes, por sua vez, aguardou serenamente a oportunidade de falar, iniciando com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranquilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para inspiração e assistência do plano maior e, em seguida, iniciou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos.


Com delicadeza, lógica, e dando vazão à sua inteligência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, e foi corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão. Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo, Eurípedes aproximou-se dele e abraçou-o fraterna e sinceramente.


DESENCARNE


Eurípedes Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa pandemia de gripe espanhola que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.


Vitimado pela referida doença, Barsanulfo desencarnou às 18 horas do dia 1º de novembro de 1918, aos 38 anos de idade, rodeado de parentes, amigos e discípulos. Manifestada em nosso continente, a gripe veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Em verdadeira romaria, Sacramento em peso acompanhou-lhe o corpo material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e sublime.


Há quem afirme que Eurípedes, conhecido como o "Apóstolo do Triângulo", fora a reencarnação do escravo Rufo, um cristão praticante que aparece no livro Ave Cristo, de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.


Eurípedes deixou uma história rica, humana e profunda. Continua ele sendo, no Plano Espiritual, um dos maiores missionários do Espiritismo.


Fontes:


- Federação Espírita Brasileira;

- GODOY, Paulo Alves. "Os Grandes Vultos do Espiritismo". Edições FEESP;

- NOVELINO, Corina. “Eurípedes, O Homem e a Missão”. IDE Editora;

- RIZZINI, Jorge. "Eurípedes Barsanulfo o Apóstolo da Caridade". Edições Correio Fraterno.