O CASO DA BESTA

Em 1931, quando o Chico passou a receber as primeiras poesias do

“Parnaso de Além-Túmulo”, um cavalheiro de Pedro Leopoldo, muito

impressionado com os versos, resolveu apresentar o Médium e os poemas a

certo escritor mineiro, de passagem pela cidade.

O filho de João Cândido vestiu a melhor roupa que possuía e, com a pasta

de mensagens debaixo do braço, foi ao encontro marcado.

O conterrâneo do Médium, embora católico romano, apresentou o Chico,

entusiasmado:

— Este é o médium de quem lhe falei.

O escritor cumprimentou o rapaz e entregou-se à leitura dos versos.

Sonetos de Augusto dos Anjos, poemetos de Casimiro Cunha, quadras de

João de Deus...

Depois de rápida leitura, o literato sentenciou:

— Isso tudo é bobagem.

E mirando o Chico, rematou:

— Este rapaz é uma besta.

— Mas, doutor, — disse, agastado, o conterrâneo do Chico — o rapaz tem

convicções e abraça o Espiritismo como Doutrina.

— Pois, então, deve ser uma besta espírita, — declarou o escritor.

Bastante desapontado, o Médium despediu-se.

Em casa, durante a oração, a progenitora apareceu.

— A senhora viu como fui insultado? perguntou o Chico.

E porque Dona Maria se revelasse alheia ao assunto, o filho contou-lhe o

caso.

A entidade sorriu e disse:

— Não vejo insulto algum. Creio até que você foi muito honrado. Uma

besta é um animal de trabalho...

— Mas o homem me apelidou por “besta espírita”.

— Isso não tem importância, — exclamou a mãezinha desencarnada —

imagine-se como sendo uma besta em serviço do Espiritismo. Se a besta não

dá coices, converte-se num elemento valioso e útil.

Porque o filho silenciasse, Dona Maria acrescentou:

— Você não acha que é bem assim?

Chico refletiu e respondeu:

— É... pensando bem, é isso mesmo.

E o assunto ficou sem alteração

Fonte : Lindos Casos de Chico Xavier. Ramiro Gama